POR ONDE COMEÇAR?

Em 1808, Dom João saiu correndo de Portugal, tendo engambelado Napoleão e os espanhóis, carregando todo o material de valor que podia, inclusive umas 15 mil pessoas, em direção ao Brasil, onde fez sua nova capital. Ali construiu universidade, museu, banco, abriu os portos e em 200 anos, BUM, temos um Brasil com 200 milhões de habitantes, vendendo e comprando soja, música, praia, nióbio, petróleo, jogador de futebol e um monte de outras coisas. A abertura dos portos significou principalmente a anexação do Brasil a artéria Aorta do sistema de troca de energia mais pragmático da humanidade, o Mercado.
Uma característica que merece atenção é que além da troca de energia, o mercado é um meio fundamental de comunicação. Observemos o seguinte exemplo:
“...Outra testemunha da época, um viajante francês confirmou ver o desembarque no Rio de Janeiro, além de outras “esquisitas mercadorias”, que incluíam pesados cobertores de lã e fogões de calefação de cobre para aquecer cama.
Eram produtos que nada tinham a ver com o clima e as necessidades locais, mas que aqui chegavam praticamente sem impostos de importação e acabavam sendo adaptados a usos nunca imaginados. O mesmo viajante francês conta que os cobertores de lã foram utilizados para substituir de forma muito mais eficiente o couro de boi na lavagem do cascalho nas minas de ouro. As bacias de cobre, furadas, viraram escumadeiras gigantes no engenhos de açúcar. Os patins de gelo se transformaram em facas, ferraduras e outros objetos metálicos. O viajante francês disse ter visto em minas gerais uma maçaneta de porta de patins.” (1808 de Laurentino Gomes).
Jamais será possível saber qual era a intenção do mineiro em comprar patins de gelo que nada tem a ver com o clima e as necessidades locais, mas podemos ler uma mensagem clara nesta atitude, a mesma mensagem que qualquer um transmite hoje em dia quando compra qualquer cosia, ambos dizem: Eu consumo. Este minero é então, um legitimo ser humano com poder de consumo, que aqui teve seu feito transformador registrado para a posteridade na apropriação e reapresentação funcional do Patins. Sabendo que o mineiro é um ser humano e que o patins é um material sujeito a vontade do homem, o que pensar da legitimidade?